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Um pouco sobre mim mesmo

Escrevo esta cartinha para partilhar um pouco sobre minha experiência a pouco mais de um mês aqui nos Estados Unidos. Estou no Institute for International Cooperation and Development – IICD na cidade de Dowagiac, MI fazendo o programa de Instrutor de Desenvolvimento para atuar nos projetos sociais da Humana People to People na Áfica. Estou há pouco tempo, mas já posso sentir minha vida mudar a partir dessa nova experiência.


Para mim nada do que estou passando é tão fácil, devido a todas as diferenças culturais, sociais, econômicas, estruturais e ideológicas as quais estou me confrontando. Por um lado todas essas diferenças me ajudam a compreender que minhas visões a respeito desses pontos não eram suficientes para compreender o mundo, pois tinha uma ideia apenas das experiências que eu tinha e não daquilo que realmente poderia fazer parte da mobilização mundial e que meu mundo não é o mundo todo. Depois, saber que tudo isso me oportunizará, entre outras coisas, a capacidade de resistir ao tempo, ao vento, ao medo, ao novo, ao certo, ao errado... ao descaso e ao acaso...


Em poucos dias é possível sentir que minha vida está sendo “rasgada” por um novo sentimento, o qual ainda não o conheço ou apenas o desconheço. Este sentimento acompanha a gente como se morássemos na mesma casa e dividíssemos a mesma cama, dormindo e acordando juntos. Não é ruim, mas as vezes dói muito quando precisamos tentar compreender. Aqui nada é pra sempre, nem mesmo o nosso desejo de mudança. Sim, pois ele com o tempo se torna nosso posicionamento. Nada dura para sempre. E até dura, o sempre que podemos sentir enquanto existe. O medo, a solidão, a raiva, a alegria, a certeza, o desespero, o calor, o frio, o abraço, o sorriso, as lágrimas, a dúvida, o tédio, o remorso, a saudade, a companhia, a solidão, etc. tudo isso chega e vai embora, ou ao menos se transforma e resignifica a cada dia, a cada conversa.


Moramos todos juntos, cada um compartilhando seu quarto, seu banheiro, sua cozinha com mais uma ou duas pessoas. Esse compartilhamento é acrescido também as dores, os desesperos, a raiva, o amor, o abraço... enfim, dividimos também as nossas vidas, uns com os outros, pois só temos as mesmas pessoas para amar e para sentir raiva ao mesmo tempo. Vivemos em comunidade e tudo aquilo que é comum entre mim é comum entre todos. Inclusive os sentimentos.


Aprendemos com o tempo a dominar nossa fala, nossa voz, nossos pensamentos e sentimentos, isso para poder ouvir o outro, pois aquilo que entra faz menos mal do que aquilo que sai de dentro da gente. O que entra é filtrado e o que sai passa diretamente pela boca, mas faz mais mal do que qualquer outra coisa, pois costuma vir do coração.
Nesse pouco tempo que estou no IICD estou aprendendo a ser tolerante, não apenas com os outros, mas principalmente comigo mesmo. Preciso tolerar minhas ganâncias e minhas bonanças. Preciso aprender a controlar as “minhas verdades” pois elas fazem parte do meu sistema que se não for bem dirigido pode prejudicar os sistemas dos outros e acabar se tornando mentira pra mim mesmo. Este exercício de autocontrole e autogestão de si próprio é possível fazer aqui, vivendo no IICD, pois vivemos e convivemos com pessoas que não pensam igual, que não agem igual, que tem comportamentos e culturas diferentes, que tem suas próprias verdades colecionadas em suas mentes, que tem sua própria história de vida e que estas interferem em suas colocações e suas posições comunitárias... Tudo isso resulta na capacidade de compreensão de si próprio e aceitação da compreensão que o outro faz dele mesmo.


Conviver em comunidade não é fácil, mas dá resultados positivos quando conseguimos diminuir a visão que temos de nós mesmos, como Ser inatingível e invencível, que possui todas as respostas e soluções para os problemas dos outros.


Apenas quando percebemos o que o outro é capaz de me ajudar a superar minhas inconstâncias é que é possível produzir o sentido de nossa permanência neste espaço, chamado de IICD.


Então, partilho dizendo que este pouco tempo que estou no IICD tem me ajudado a me tornar uma pessoa a cada dia melhor, mais humana, mais confiante, menos explosiva, e que começa a pensar como posso ajudar os outros a me ajudarem.


Espero que toda essa construção consiga produzir frutos fortes para me ajudar a seguir meu caminho de voluntariado na África, onde terei que estar conectado comigo mesmo, com o outro e com o novo.



A todos do Brasil, um abraço apertado com muitas saudades e desejos de reencontros para as mais belas partilhas sobre a vida.





IICD - Dowagiac, MI, USA - 17 de junho de 2012.

Blog do Aniervson

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